quinta-feira, 16 de julho de 2015

Design didático em ambientes virtuais

Rosa Maria E. M. da Costa
Vânia Marins

"Cheguem até a borda, ele disse.
Eles responderam: Temos medo.
Cheguem até a borda, ele repetiu.
Eles chegaram.
Ele os empurrou… e eles voaram."
(Guillaume Apollinare)
Objetivos
• Relacionar design de interfaces e design didático.
Sobre o design e arte
Vamos ler o seguinte poema de Vinícius de Moraes. Ele servirá de inspiração para a
discussão do conceito de “Design”.
Receita de mulher
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize
elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso
que súbito tenha-se a
impressão de ver uma
garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só
encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas
que se reflita e desabroche

Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
Vinicius de Moraes


(A poesia completa encontra-se em: http://vagalume.uol.com.br/vinicius-de-moraes/receita-
de-mulher.html.)

Deste poema pensamos que a maioria de nós conhece ao menos a menção de que
“beleza é fundamental”. Acreditamos nisso? Nosso discurso é coerente com o que
sentimos? Quantos de nós, que vivemos neste mundo repleto de apelos visuais, não
questionamos o valor do belo, como algo apenas decorativo ou que encobre a falta de
valor intrínseco, como o excesso de maquiagem tenta encobrir um rosto com
imperfeições? Sim, a beleza pode ser fundamental, não a beleza fútil que deseja se
impor por si mesma, mas a beleza que vem do cuidado, do carinho, da escolha
demorada e criteriosa e do desejo de impressionar exatamente por esse cuidado, por
esse carinho e pela dedicação nesta escolha. Ou seja, da beleza que tem especial
harmonia com o conteúdo tornando-o mais atraente.
Oferecer bom design é mais que oferecer um produto maquiado, é oferecer
possibilidades de caminhos para que a essência atinja nossos sentidos. A descrição de
Vinicius de Moraes é cheia de metáforas e de encanto, ele fala de uma beleza composta
de detalhes que devem ser vasculhados, procurados por quem deseja encontrar para se
encantar.
Assim o design perpassa toda a nossa vida e ainda mais agora, que temos acesso
às interfaces interativas dos computadores, coloridas, sonoras, móveis e customizáveis.
É esse tipo de reflexão que desejamos propor aqui nesta aula. Um reflexão sobre a arte
de escolher formas e conteúdos com o objetivo de encantar alguém que deseja aprender
algo e que agora tem a sua disposição diferentes mídias e mais ainda, que está
acostumado com elas.
Desta forma, partindo da visão geral de design, pretendemos discutir a questão
do design didático para a EaD. Estabelecer para esse conceito uma visão integral,
incorporando as ferramentas e os métodos que permitem interferir e transformar os
conteúdos, de forma a criar ambientes agradáveis para a apresentação de conteudos
àqueles que tem necessidade ou deseja aprender determinado assunto.
Design didático para EaD
O uso do computador, e mais recentemente da Internet, está se tornando presente
em quase todos os aspectos da vida moderna: bancos, lojas, supermercados, ambientes
de trabalho, eletrodomésticos e lazer. De diversos modos, o computador vem ampliando
a capacidade das funções cognitivas humanas e mudando a maneira do homem pensar
sobre o mundo e sobre si mesmo.
Prover meios de acesso à informação a professores e a alunos, usando a
tecnologia disponível, parece ser uma das saídas para as atuais demandas educacionais,
ou seja, um meio de modernizar as relações entre escola e sociedade.
Pensadores contemporâneos, como Pierre Lévy (2000), com os olhos voltados
para o impacto causado pelas novas tecnologias, estão apontando para o ensino aberto e
a distância, como uma solução para as demandas de educação da sociedade
contemporânea.
A escrita, suporte informacional por excelência, foi concebida e utilizada desde o
seu aparecimento sob a forma de signos estáticos sobre um suporte fixo. Contudo, com
o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), os processos de
compartilhamento de informações vêm se caracterizando pela interatividade, navegação,
escolha de fluxos e customização de suas interfaces, abrindo novas possibilidades à
expressão visual do pensamento através das mídias de comunicação (Lévy, 2004). Essas
possibilidades têm sido aproveitadas pelos mais variados setores da sociedade e
começam, agora, a se tornar presentes e a despertar interesse dos educadores em suas
propostas educacionais.

A experiência do homem contemporâneo não pode ser compreendida sem
considerar as suas relações com a informação e a imagem (Lévy, 2004). A chamada
“Sociedade da Informação” pode ser caracterizada: (1) pela explosão da informação; (2)
pelo crescimento do acesso aos meios de comunicação, que contribuem para o excesso
da oferta de informação; (3) pelo uso massivo de imagens; (4) pelo tratamento
automático da informação pela informática e (5) mais recentemente, pelas tecnologias
que viabilizam interfaces para visualização desta informação, numa tentativa de reduzir
o caos gerado pela sua disponibilidade e excesso.
Neste contexto, o panorama educacional na atualidade pode ser caracterizado por
quatro aspectos ou tendências principais: (1) acesso à informação proporcionado pelas
TIC (Castells,1999); (2) excesso de informação (Vaz, 2000); (3) mudança do paradigma
educacional centrado no professor e (4) transformações perceptivo-cognitivas por parte
do novo tipo de leitor, que se forma a partir das TIC – o "leitor imersivo" (Santaella,
2004) e visual (Lévy, 2004). O leitor que navega entre os nós da Web, construindo
roteiros não lineares e não sequenciais e, que interage com as diversas mídias nela
disponíveis.
Hoje mais do que nunca, a educação e o acesso a ela estão determinados pelo
acesso à informação. O ensino a distância não é algo novo; ele aparece hoje
instrumentalizado mais poderosamente pelo uso dos computadores e da Internet.
O uso da mídia eletrônica é um diferencial em relação às tecnologias
empregadas nas experiências iniciais de ensino a distância (onde são utilizados mídia
impressa e telefone), por oferecer recursos que aliam a capacidade de processamento,
armazenamento de dados e utilização de multimídias; à interatividade e às
possibilidades de comunicação da Internet. Porém, a aprendizagem a distância, apoiada
na Internet, o e-learning, demanda atenção especial, já que exige novas abordagens
para a apresentação de conteúdos e estratégias diferentes daquelas empregadas no
ensino presencial (Nobre, 2003).
Em e-learning, a atividade daqueles que estão ocupados em trabalhar os
conteúdos, com as ferramentas de informação e comunicação disponíveis na atualidade,
em especial ferramentas da Internet, objetivando a apresentação desses conteúdos
educacionais em formato eficaz para o processo de ensino-aprendizagem, costuma ser
denominada de design didático. Essas atividades englobam a organização e a
apresentação do conteúdo de modo a estabelecer interconexões entre os vários assuntos
4
a serem tratados. Desta forma, são propostas atividades graduadas, que permitem atingir
os objetivos, exploram as melhores mídias de apresentação para facilitar as tarefas de
aprendizado, enfim, primam pela meta de apresentar o conteúdo em uma forma
dialógica. Stuart (2003) estabelece que o trabalho de preparação de material didático
para um curso de um modo geral segue uma metodologia que pode comportar as
seguintes etapas:
· Defina os objetivos de aprendizagem;
· Defina as tarefas de aprendizagem;
· Estruture o curso;
· Escolha o conteúdo;
· Escolha as mídias apropriadas;
· Defina a avaliação adequada.
Segundo o autor, podem existir variações dessa abordagem, mas todas elas
seguem, de alguma forma, esta sequência de passos. Quais são as vantagens desta
abordagem? É confiável e produz resultados satisfatórios, é fácil de gerir e é rentável
(possibilita reutilização).
O que é design ?
A maioria das definições para o termo design engloba o aspecto abstrato de
conceber/projetar e o aspecto concreto configurar/formar (Cardoso, 2004). Assim, o
design compreende a concepção de um produto em todas as suas dimensões. Portanto,
podemos afirmar que design é uma atividade que mobiliza a criatividade. Segundo
Stuart (2003), designers parecem partilhar um conjunto de atitudes que são úteis na
produção de soluções inovadoras e excitantes:
· Eles têm uma insatisfação natural com as formas existentes de fazer as coisas;
· Eles se esforçam para anularem as suas concepções pré-existentes e verem as
situações como novas;
· Eles vêem o valor do desafio e da provocação como o motor da mudança.
Veja os dois tipos de espremedores de laranja na Figura 1 e reflita. Qual deles
possui o design mais inovador? E quanto à função, qual parece ser mais prático de
utilizar e mais eficiente?
5
Figura 1 – (a) espremedor tradicional, (b) Espremedor de suco, design de Phillipe Stark
(2010),
O que é design didático ?
O conceito de design didático envolve questões relativas à concepção e à criação
de produtos que visam alguma atividade de aprendizagem. Filatro (2009) enxerga o design
didático como uma atividade interdisciplinar que contempla os campos de conhecimento
referentes: (1) às ciências humanas, que englobam os diversos aspectos relativos
à forma como as pessoas se desenvolvem e aprendem; (2) à ciência da informação, que
envolve, principalmente, os meios de comunicação e as questões relativas às interfaces
para a recuperação da informação e (3) às ciências da administração, principalmente as
ligadas à gestão de processos, na medida em que projetos complexos podem ser divididos
em projetos menores, ou que estes podem ser mais bem conduzidos por uma equipe
de especialistas. A Figura 2 apresenta graficamente esta integração de áreas. Barreto
(2007) complementa esta definição afirmando que o desenho (design) didático é uma
“boa idéia que encontrou caminhos para fazer diferença na vida de alguém que está tentando
aprender alguma coisa”. Como a autora nos sugere, ter uma “boa idéia” aponta
para um outro campo de pesquisa, a (4) criatividade e os processos criativos. As áreas
envolvidas no conceito de design didático são abordadas mais detalhadamente a seguir.
6
Figura 2 – Integração das áreas que compõem o design didático
2.1 Ciências Humanas
Recentemente, a Educação a Distância (EaD) vem consolidando um novo paradigma
de ensino pautado na interatividade, no uso crescente dos recursos oferecidos pelas
TIC e na ideia de que a aprendizagem envolve um processo de participação entre
elementos de uma comunidade, visando à construção e à reconstrução do conhecimento.
Segundo esta visão sócio-interacionista (Vygotsky, 2008), o conhecimento é construído
de forma coletiva, marcado pela história e pela cultura das comunidades. Neste contexto,
a interação social possui um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo do indivíduo,
pois seu desenvolvimento aparece primeiro no nível social, entre seus pares, e
depois no nível individual, dentro de si próprio. Nesta perspectiva, a aprendizagem é
vista como o resultado das interações sociais e como processo social contínuo.
A ideia de zona de desenvolvimento proximal é um conceito chave no sócio-interacionismo.
Ela é entendida como a distância entre o nível de desenvolvimento real,
determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através de resolução de um problema sob a orientação
de outra pessoa ou em colaboração com ela. Desta forma, a interação entre os aprendizes
e os mediadores e entre os próprios aprendizes adquire especial relevância no processo
de aprendizagem. Vygotsky sustenta que a educação deveria vincular-se mais es-
7
treitamente ao nível potencial de desenvolvimento que ao nível efetivo (Vygotsky ,
2008).
As ideias de Vygotsky (2008) sobre os instrumentos mediadores estão alinhadas
com as de Lévy (2004) quando este afirma que as tecnologias intelectuais apoiadas pelo
ciberespaço ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas como:
a memória (bancos de dados e hipertextos), a imaginação (simulações), a percepção
(ambientes interativos e imersivos) e os raciocínios (inteligência artificial).
A combinação das TIC com os construtos de aprendizagem colaborativa deram
origem a uma linha de pesquisa em desenho didático denominada Computer Supported
Collaborative Learning (CSCL), ou aprendizagem apoiada por computador. Estudos realizados
nesta área apontam que CSCL pode ter efeitos positivos em Educação (Janssen
et al, 2008).
A CSCL nasceu a partir do trabalho colaborativo assistido por computador –
Computer Suported Collaborative Work (CSCW), e pode ser definida como uma metodologia
de aprendizagem, onde os aprendizes constroem o seu conhecimento através da
discussão, da reflexão e da tomada de decisões, e onde os recursos computacionais atuam
como mediadores deste processo. A idéia por trás da CSCL é a de que recursos computacionais
e de comunicação suportam grupos de trabalho com tarefas comuns, fornecendo
uma interface que possibilita a realização de um trabalho em conjunto.
A teoria sócio-interacionista de Vygotsky e a concepção dialógica da comunicação
de Bakhtin proporcionaram a Wertsch (1993) uma base para uma aproximação sociocultural
da ação mediada. Pesquisas educacionais recentes no âmbito da EaD têm se
baseado nas idéias de Wertsch (1993), objetivando identificar no discurso dos aprendizes
como se dá a construção coletiva do conhecimento (Bakhtin, 2003; 2004). A idéia
por trás disso é que a ação humana, e neste sentido a educativa também, emprega “instrumentos
mediadores”, tais como as ferramentas culturais e a linguagem.
Bakhtin (2004) desenvolve os conceitos de: enunciado, voz, linguagem social e
gêneros discursivos para construir sua abordagem sobre a linguagem. Ele considera o
enunciado como “a verdadeira unidade da comunicação verbal”, assumindo que a compreensão
real é responsiva, ou seja, o discurso do falante está pleno dos significantes do
ouvinte, a quem ele pretende atingir. Para o autor toda compreensão verdadeira é dialógica
por natureza (Wertsch, 1993). Sendo assim, não se pode definir um discurso sem
correlacioná-lo com outros discursos e com o contexto social em que se realizam. Os
8
processos comunicativos humanos se caracterizam pelo diálogo de vozes, isto é, quando
um falante produz um enunciado, ao menos duas vozes se fazem presentes: a do falante
e a do seu interlocutor.
Para construir sua idéia sobre enunciado, Bakhtin também utiliza os conceitos
descritos a seguir: (1) ventrilocução, o processo de elaboração de enunciados a partir de
linguagens sociais, ou seja, através do discurso próprio de um estrato específico da sociedade,
segundo características tais como, a profissão, a idade, ou o gênero. Como exemplos
de linguagens sociais pode-se citar os jargões profissionais e as linguagens de autoridade
de diversos grupos como o de professores e de militares; (2) interanimação de
vozes, onde as palavras do outro não estão presentes, mas deixam sinais perceptíveis de
ter havido influência na fala do primeiro sujeito; (3) construção híbrida, onde um enunciado
é feito pela mescla de diferentes vozes e (4) gênero discursivo, um tipo de enunciado
que reflete características de cada campo de conhecimento ou da atividade humana
e de suas comunidades discursivas. O diálogo científico, ou de aprendizagem, são
exemplos desses gêneros discursivos (Wertsch, 1993).
Assim, no campo das ciências humanas, o referencial teórico que serve de suporte
à ação de designer instucional, toma como base inicial a concepção sócio-interacionista
de Vygostsky, incorporando as idéias de dialogicidade de Bakhtin, na perspectiva
da ação mediada de Wertsch (1993).
2.2 Ciência da Informação
Borko (2001 apud Almeida, 2007) define a Ciência da Informação como aquela
disciplina que investiga as propriedades e os comportamentos da informação, as forças
que governam seu fluxo e os meios de processá-la para usabilidade e acessibilidade ótimas.
Com foco na informação, essa ciência está interessada no corpo de conhecimento
relativo à sua origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação,
transmissão, transformação e utilização. Para Hjørland (2007), o objeto desta ciência, a
informação, está no estudo das relações entre os discursos, áreas de conhecimento e documentos,
em relação às possíveis perspectivas ou pontos de vista, que permitem o
acesso à informação a distintas comunidades discursivas de usuários; este paradigma social-
epistemológico é chamado análise de domínio (domain analysis). Segundo Hjørland
(2002), a informação é mais bem compreendida sendo estudada a partir dos domínios
de conhecimento relacionados à suas comunidades discursivas. Este entendimento
9
aproxima-se do conceito de gêneros discursivos proposto por Bakhtin (Wertsch, 1993) e
da visão-sócio interacionista da produção do conhecimento de Vygotsky.
Buckland (1991 apud Almeida, 2007) distingue três principais usos da palavra
informação: (1) informação como processo, que corresponde ao ato de informar; (2) informação
como conhecimento, referente ao conhecimento comunicado; e (3) informação
como coisa, que diz respeito aos objetos como dados e documentos.
A Ciência da Informação (CI), como qualquer campo, é definida pelos problemas
que lhe são endereçados e pelos métodos que são escolhidos para resolvê-los, ou seja,
pelas questões relativas à informação (Saracevic, 1995). Tais problemas necessitam de
abordagens interdisciplinares. Portanto, a CI é interdisciplinar por natureza. Saracevic
(1995) relaciona a CI a quatro campos ou marcos teórico-fundamentais: (1) Biblioteconomia,
relacionada à catalogação para a recuperação de informações; (2) Ciência da
Computação, destacando os aspectos relativos à área de estudos de Interfaces Humano
Computador (IHC); (3) Ciência Cognitiva, que estuda o funcionamento da mente e da
inteligência (Thagard, 1998); e (4) Comunicação, que estuda o intercâmbio de informação
entre sujeitos ou objetos utilizando sistemas simbólicos como suporte para este fim.
Estes campos estão intimamente ligados aos usos do conceito de informação como processo,
como conhecimento e como coisa. É importante ressaltar que o foco de IHC, neste
curso, está relacionado à usabilidade das interfaces. Uma interface é tão melhor quanto
mais atenda ao seu usuário padrão, ou seja, uma interface torna-se mais eficiente na
medida em que seja fácil de usar por seus usuários mais constantes. Uma boa interface
deve atender a seus usuários em suas necessidades e suas limitações, sem que haja uma
sobrecarga cognitiva. Assim, “o excesso de opções e de convenções, que eu devo aprender
para que eu possa me tornar-se proficiente no uso de uma interface, me deixa confuso
e cansado. Os psicólogos chamam isso de sobrecarga cognitiva. Eu chamo de problema”
(Laurel,1990).
Segundo Gomes (2008), a compreensão de que a informação se constitui em conhecimento
comunicado que pode ser recuperado é um processo inerente ao compartilhamento
de saberes (Langrid, 1977 apud Souza, 2006). Isto torna particulamente interessante
a aplicação do paradigma social-epistemológico (domain analysis) proposto
por Hjørland (2002) em EaD, principalmente a que usa os recursos das TIC.
10
2.3 Criatividade
Barreto (1982) propõe que reflitamos sobre três pressupostos básicos relativos à
criatividade: (1) localizar o problema; (2) solucionar o problema e (3) uma boa idéia é
aquela que irá solucionar um problema de forma singular, ou seja, de uma maneira nunca
feita anteriormente.
Além disso, Barreto (1982) sugere um método que divide o processo criativo em
quatro fases, a saber: (1) preparação, envolvendo a coleta e manipulação do maior número
possível de dados e elementos pertinentes ao problema que se deseja resolver e,
em seguida, refletir sobre esses dados, podendo-se ler, anotar, discutir, consultar, e assim,
cultivar a concentração no assunto. Pode-se, também, folhear catálogos ou álbuns
de fotografias dos mais variados tipos como, por exemplo, gente, troncos de pinheiros,
festas, cabides, velas de Natal, pois idéias novas são novas combinações, são remanejamentos
de coisas conhecidas relacionadas a novos usos e a novas soluções; (2) incubação,
fase na qual se deve descansar, desligar-se do problema, abandonar os detalhes, os
números, as formulações, a procura. Barreto (1982) afirma que o inconsciente entra em
ação: “O inconsciente, desimpedido pelo intelecto, começa a elaborar as inesperadas conexões
que constituem a essência da criação” (Barreto, 1982).; (3) iluminação, relacionada
ao insight – idéia ou idéias que podem solucionar o problema e que aparecem espontaneamente;
(4) verificação, representa um retorno ao consciente, à racionalidade. A
idéia deve submeter-se à previsão das reações de outrem, fazendo-se necessários testes e
avaliações. É nesse estágio que entram em cena as exigências de adequação.
Comentários Finais
Concluindo este capítulo, gostaríamos de ressaltar que o nosso curso propõe adotar,
como arcabouço teórico, os campos elencados por Filatro (2009) para o design didático
e seus respectivos desdobramentos, caracterizando-se, assim, pela interdisciplinaridade
e colaboração. As idéias em torno do termo design trazem em seu bojo a marca da
criatividade, e não poderia ser diferente, quando se pensa em design didático. A criatividade
perpassa todas as atividades humanas. É o grande diferencial dos produtos da sociedade
moderna, marcada pelo acesso e pelo excesso de informações em um contexto
que utiliza imagens de forma massiva.
11
Reflexão
O que você pensa a respeito do que dissemos no texto da Aula 1? Observe os
materiais didáticos ao seu redor e o design didático criado para eles. Esse é seu primeiro
exercício, formar um pensamento crítico a respeito do design didático.
Vamos assistir aos vídeos listados a seguir (que fazem parte de uma palestra que
foi dividida em dois vídeos) de Ken Robinson, líder internacional na área de desenvolvimento
de inovações e recursos humanos. Esta palestra complementa muito bem o que
foi discutido até agora em nosso curso.
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=yFi1mKnvs2w
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=0pn_oTIwy4g
Referências
ALMEIDA. C. A; BASTOS, F. M.; BITTENCOURT, F. Uma Leitura dos
Fundamentos Histórico-Sociais da Ciência Da Informação. Revista Eletrônica
Informação e Cognição, v.6, n.1, p.68-89, 2007. Disponível em:
<http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/reic/search.php?op=longIndex>. Acesso em:
10 mar. 2008.
BAKHTIN, M. (2003). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes.
BARRETO, C. (Org.) Planejamento e Elaboração de Material Didático Impresso
para Educação a Distância. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2007.
BARRETO, R. M. Criatividade em Propaganda. São Paulo: Summus, 1982.
CARDOSO, R. Uma introdução à histório do design. São Paulo: Editora Edgard
Blücher Ltda. 2004.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CTD - Centro de difusão e Tecnologia do Conhecimento. Disponível em
http://cursos.cdtc.org.br. Acesso em abril de 2010
FILATRO, A. Design Instrucional na Prática. São Paulu:PEARSON Prentice Hall,
2008.
GOMES, H. F A mediação da informação,comunicação e educação na construção
do conhecimento. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.9 n.1 fev/08.
Disponível em: <http://www.dgz.org.br/fev08/F_I_art.htm>. Acesso em: 10 mar. 2008.
HJØRLAND, B.; CAPURRO, R. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência
da Informação, v.12, n.1, p. 148-207, jan./abr. 2007.
12
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pci/v12n1/11.pdf >. Acesso em: 02 ago.
2008.
HJØRLAND, B. Domain analysis in information science: eleven approaches
traditional as well as innovative. Journal of Documentation, v.58, n.4, p. 422-462,
2002.
JANSSEN, J.; GIJSBERT, E.; KANSELAAR, G. ; J. J. Visualization of
participation: Does it contribute to sucessful computer-supported collaborative
learning ? In: Computers & Education, 49, 2007. Disponível em
<http://www.cs.uu.nl/docs/vakken/uem/Janssen.pdf> Acesso em: 10 ago. 2008.
LAUREL, B. Introduction. In: LAUREL, Brenda. The Art of Human Computer
Interface Design USA: Addison-Wesley Publishing Company, 1990. p.xi-xvi.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000.
LÉVY, P. Ideografia Dinâmica: Rumo a uma Imaginação Artificial?. São Paulo:
Editora Loyola, 2004.
LÉVY, P. As tecnologias da Inteligência - O futuro do pensamento na era da
informática. São Paulo: Editora 34, 2004, 13a. Edição.
NOBRE, V. M. Projeto de Aprendizagem – uma interface gráfico pedagógica de
conteúdos para e-learning. Msc. dissertação. NCE - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo 1ª
edição. São Paulo: Ed Paulus, 2004
SARACEVIC, T. Interdiciplinary nature of information science. Ciência da
Informação, Volume 24, número1, 1995. Disponível em:
<http://dici.ibict.br/archive/00000598/01/natureza_interdisciplinar.pdf>. Acesso em: 01
dez. 2008.
SOUZA, R. F. Organização e Representação de Áreas do Conhecimento em Ciência
e Tecnologia: princípios de agregação em grandes áreas segundo diferentes
contextos de produção e uso de informação Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf.,
Florianópolis, n. esp., 1º sem. 2006.
STARCK, P. Disponível em: http://www.starck.com. Acesso em abril de 2010.
STUART, 2003, Learning by Design. Disponível em:
<http://www.elearningpost.com/articles/archives/learning_by_design>. Acesso em
maio de 2010.
THAGARD, P. Mind – Introdution to Cognitive Science. London, Cambridge,
Massachusetts. Bradford Book The MIT Press,1998.
13
VAZ, P. Esperança e excesso. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS PROGRAMAS PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, 9.,
2000, Porto Alegre. Anais ... Porto Alegre: FAMECOS –PUCRS, 2000. V.1. Disponível
em <http://www.eco.ufrj.br/paulovaz/textos/esperanca.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2008.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. Org: Michael Cole et al; tradução José Cipolla Neto, Luís
Silveira.
WERTSCH, J. V. (1993) Voces de la mente, un enfoque sociocultural para el
estudio de la acción mediada (trad. Adriana Silvestri) Madrid: Visor.
1

Nenhum comentário:

Postar um comentário